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Mais um capítulo chegando, e este, está mais para uma modificação da versão antiga. Não deixem de comentar sobre o que acharam. Criticas são bem-vindas. :)


# 03
Fatos enigmáticos

   Grande era a sua história e seu tamanho. A maior e melhor escola da cidade de Nova Vida encontrava-se no local mais afastado de sua cerne, destacada dentro de uma mancha verde que era o Bairro Ventura. A extensão e forma territorial da instituição vista de cima assemelhava-se a duas asas estiradas no meio de um campo, de onde cresciam construções alvas e formosas.
   O jovem Léo respirou fundo e caminhou rumo à entrada do colégio Ventura.

   Essa sensação não era nenhum pouco confortante. O nervosismo imperava em meus movimentos. Minha peregrinação em direção àquele portão quase faziam minhas pernas enregelarem e travarem a qualquer momento.
   Eram meus primeiros passos a um mundo desconhecido. Sempre me sinto inseguro quando vou para um lugar novo. Como estou sempre sozinho na maioria das vezes que isso acontece, não tenho ninguém com quem dividir esta sensação.
   Tirei minha carteirinha escolar do bolso e mostrei ao porteiro que estava posicionado na porta de uma cabine à direita. Quanto ao portão, justamente a parte direita estava aberta. O lado esquerdo mantinha-se cerrado.
   Pelo o que sabia do colégio, havia quatro entradas. Uma para o primário; uma para o fundamental; uma para o ginásio que é onde eu me encontro; e a última para a faculdade. Pela dimensão da escola já devia imaginar que seriam várias entradas. Com certeza a quantidade de alunos nela é proporcional ao seu tamanho.
    Após executar meus primeiros passos naquele ambiente desconhecido, observei o seu interior. A maior parte do terreno era gramado e cortado por trilhas para pedestres e algumas ruelas por onde os carros transitavam pelo colégio. Havia também algumas árvores, canteiros, e plantas. Um espaço bem natural, fazendo jus à imagem que o bairro possuía. Na verdade, mais parecia um local de passeio ao ar livre.
   Caminhando em direção retilínea, seguindo o grupo que saira do ônibus e adentrava no primeiro prédio logo adiante, reparei que antes disso, havia algo peculiar e que chamava muita atenção. Bem no meio da distância entre o portão e a entrada para o prédio, jazia um pequeno pilar sustentando o busto de uma estátua.
   Observei o monumento.
   Tratava-se de uma estátua em homenagem ao fundador da escola: Manoel Ventura. Prestei muita atenção aos seus detalhes. A imagem da estátua mostrava um homem de óculos, calvo com cabelos nas laterais. Seu olhar era um pouco... hum... intimidante. Parecia mais a face de um ditador. Mas não era seu cenho o atrativo, e sim as asas que a figura portava. Duas grandes asas, que ao invés de estarem abertas, encontravam-se fechadas, veludando toda a frente do corpo – que fora esculpido apenas do abdômen à cabeça –, exceto do pescoço pra cima.
   Mesmo vendo-a em algumas fotos na internet, a sensação de estar olhando para a escultura era um pouco arrepiante. Uma arte um tanto sobrenatural para um colégio.
 “11/02/1988” Li o dia em que ela foi esculpida.
   Vinte e dois anos atrás. Aqui, Manoel parecia ter uns sessenta ou setenta anos. Quer dizer que hoje ele estaria perto dos cem, se estivesse vivo.
   Não sei muita coisa sobre esse caso, mas faz alguns anos que esse senhor falecera, e ninguém nunca soube o real motivo. Ele apenas foi encontrado morto em sua própria residência, e não houve impressões digitais ou qualquer prova de que alguém entrara na casa durante a trágica noite, embora todo o interior da moradia estivesse destruída. É mais uma morte que entra pra lista dos mistérios eternos.
   O que acho gozado é a ironia entre o título da escola e o meu sobrenome: Ventura. Esse nome significa felicidade. Acharia muita coincidência se acreditasse em coincidências. Na verdade, acredito que há uma razão para eu estar aqui dentro. Eu posso chamar de destino ou apenas uma mera intuição, mas eu tenho certeza, que a partir deste dia, alguma coisa mudará em minha vida.
   E esse pressentimento que deveria me assustar, muito pelo contrário, apenas me torna mais confiante. Eu não sei ao certo o que está acontecendo comigo pra cogitar isso, mas tenho certeza que algo vai acontecer.
- Você pode me dizer? – perguntei a escultura.
   Tá certo. É um absurdo eu falar com uma estátua, mas o rosto desse senhor que também leva o meu sobrenome me dá impressão de que sabe alguma coisa. Ou simplesmente acho que estou perdendo a razão. Não acredito que fiz uma pergunta a um homem com asas!
   Bom, seja o que for que irá mudar, espero que seja para melhor. Respirei fundo, e contornei a estátua para caminhar até a entrada do prédio.
   Ladeando a escadaria para o hall da escola, havia mais duas estátuas atípicas. Tratava-se de dois corvos se encarando, um do lado esquerdo e o outro do direito. Elas deviam ter por volta de dois metros. Pode não parecer, mas essas duas esculturas estão aí devido ao grande número de corvos que habitam as montanhas aqui do bairro Ventura – um fato intrigante que nenhum biólogo atual ainda conseguiu desvendar. Corvos em abundância no Brasil? Mesmo assim, passar entre esculturas de corvos não me parecia muito convidativo. Pra onde foi o bom gosto das pessoas daqui?
   Antes de retomar a passada, um grasno agudo me fez virar para trás. Um corvo havia pousado sobre a cabeça de Manoel Ventura. Por um momento, pensei que o animal estivesse me encarando, ficara um bom instante me fitando, mas o mesmo logo em seguida, grasnou novamente e ruflou suas asas para bem longe
- Tomara que isso não seja um mau presságio – ironizei.
   Parecia até que esse lugar queria me assustar um pouco. Huh! Como se tivesse medo de coisas assim...
   Retornei então a caminhada para o prédio.  

   Um jovem de boné verde ainda mantinha-se apreensivo sob a sombra de uma árvore.

- Eu sei. Não posso falhar. Conheço a situação – disse à pessoa do outro lado da linha.
- Não fique nervoso. Você vai conseguir. Temos que aproveitar nossa vantagem.
   Mesmo que ele afirmasse isso, eu não me sentia numa posição avantajada. Muito pelo contrário, sentia-me como um rato acuado, temendo que a qualquer momento um gato grande me achasse e me desse um fim.
   Minhas mãos tremidas não conseguiam nem segurar o celular ao ouvido. Minha voz era hesitante. Meu coração palpitava de ansiedade. Estava prestes a executar a ação mais importante da minha vida. E eu não podia falhar.
- Boa sorte – desejou a pessoa. – Esperarei sua ligação.
   E desligou.
   Fiquei alguns segundos tentando sorver toda a responsabilidade que teria daqui em diante. Fitei a sombra da árvore que me acolhia, e vi que dentro da penumbra irrompiam alguns pontos luminosos oriundos dos feixes de luz que atravessavam a copa da árvore. De certa forma, aquilo me deu um pouco de esperança. Esperava que no meu caso, a escuridão também não fosse completa, que houvesse pequenas esperanças luminosas que me dessem força para enfrentar o que viria.
   Guardei o aparelho no bolso da calça. Levantei-me e me dirigi ao grande prédio escolar adiante. Havia uma entrada pequena na ala leste, e era ali mesmo o meu caminho.
   Tudo dependia de minha missão. Mesmo que precisasse arriscar a vida, eu daria sequencia ao plano. Isso não terminaria sem ao menos ter começado.
   Ventura... Para você, hoje será o princípio de sua decadência.

5 comentários:

Anônimo disse...

Bom capítulo, gostei da descrição das situações. Muito bom!!!

Yokuo disse...

Haha, gostei do link feito entre o sobrenome do Léo e o nome da escola/bairro. Os japoneses fazem muito esse tipo de brincadeira com nomes em suas obras!

Cara, com Ventura eu estou percebendo sabe o quê? Que eu adoro livros de suspense e mistério! Hahaha. Quem sabe eu não deva partir mais pra um Stephen King ou um Arthur Conan Doyle.

Esse capítulo foi ótimo também, mas estou notando um certo, digamos, exagero na formalidade com a qual o Léo faz a narração. Sei que ele é inteligente, mas não acho que seja do tipo certinho na fala.

Fora isso, tá muuuuuito bom, continua assim!

de Dai para Isie disse...

E sempre com esse final suspenso! Quer prender mesmo os leitores, hein?

Eu também observei isso que Yokuo colocou. O Léo é inteligente e tudo, porém nem sempre os mais inteligentes falam tão certinho. Acho que a linguagem dele poderia ser um pouco mais solta e isso daria certo dinamismo à leitura. Sempre entendo o sentido das palavras, mas, como sou curiosa, fico parando pra analisar as definições do dicionário com a intenção das cenas. Eu faço isso, e gasto tempo, tem leitor que não tem tanta paciência. A história em si já é interessante, a trama é boa, as palavras não precisam ser tão rebuscadas - você usa muitos sinônimos difíceis.

Você colocou carteirinha escolar... Lembrei que em certos lugares, como cursos importantes e super movimentados, eles usam cartões magnéticos - chaves. Quando passamos a chave na catraca, o porteiro vê nossa fotografia com todos os dados na tela do PC. Algo bem moderninho...

Mas eu tô gostando mesmo, estou me envolvendo com a história. Acho o Léo meio prolixo, só que a trama é boa. E esse garoto encostado na árvore... Manda logo o quarto! XD

Luiz Fernando Teodosio disse...

Valeu Fernando, tentei passar da melhor forma possível, mas talvez eu tenha dado um deslize como disseram o Yokuo e Isie.

Mas comentando aos pouquinhos, sobre a importancias dos "nomes" em uma história, eu também gosto desta ligação.
Hehe, eu tambem não gostava muito de suspense, e acabei descobrindo que gosto bastante. Só espero que eu consiga fazer um legal com o Ventura. Mas tu também não tinha aquela história "ID", eu acho? Ela era bem legal, e quase no mesmo estilo que a minha. hehe

Isie, eu adoro esses finais. xD Sempre que dá eu estou terminando um cap neste estilo.

Quanto à critica de vocês dois no que concerne a formalidade, acho que sem querer acabo que usando aquele estilo mais requintado do Mundo Sombrio( que não escrevo faz meses, para me focar justamente no estilo do Ventura). Porém, nem eu mesmo medi o quanto o Léo é inteligante, e talvez eu esteja superestimando ele demais. Todavia, para diferenciar da narração dos outros personagens, essa formalidade( vou tentar ser menos exagerado ), pode vir a calhar para preenher o estilo do personagem. Mas isso não signifique a narração dele será sempre formal. Mas obrigado pelo toque, vocês dois, tenho que prestar mesmo atenção neste fato.

Sobre a carteirinha... Sim, é uma boa opção para escolas de grande porte e bem movimentadas. Só que não são todas que adotam esse modelo, por vários motivos internos. Hehe, bom acabei deixando claro que o colégio Ventura não é um paraíso, e como toda escola tem seus defeitos. Eu até pensei em colocar este sistema, mas preferi mesmo algo mais genérico.

Obrigado pelos comentários. :)

de Dai para Isie disse...

Luiz, acho que usando carteirinha estudantil, a segurança da instituição pode falhar com mais facilidade, o que deixa um campo aberto pra você criar (Hehe). Na verdade, esse lance que falei foi só comentário mesmo, não foi sugestão.

Eu amei essa coisa da conversa com a escultura, e o corvo pousando na cabeça do outro Ventura foi... Uau!

Confesso que não li Mundo Sombrio, mas de Ventura estou gostando. (Hahaha!) Manda logo o quarto capítulo! =D