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Olhando livros de um real no sebo do corredor da faculdade, deparei-me de repente com uma capa que destoava completamente das demais, e não apenas a "casca" do livro era diferente, mas seu título era bastante incomum: Nerdquest. Sem dúvida, uma ovelha negra numa estante abarrotada de livros de poesias, contos e pequenos romances com tendências mais realistas, embora esse livro de capa pitoresca também seja uma história realista, mas com um toque de...hm... "nerdice". Sim, essa é a palavra. Na hora pensei: um livro para nerds. Brilhante!

Antes de mais nada, o que seria um nerd? Vamos abusar do Wikipédia. "Nerd é um termo que descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com conotação depreciativa, uma pessoa que exerce intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em detrimento de outras atividades mais populares. Por essa razão, um nerd muitas vezes não participa de atividades físicas e é considerado um solitário pelas pessoas. Pode descrever uma pessoa que tenha dificuldades de integração social e seja atrapalhada, mas que nutre grande fascínio por conhecimento ou tecnologia." Não leve uma definição como essa escrita em pedra, definir um nerd é uma indefinição por si só. Bom, nem eu compreendi bem o paradoxo que fiz agora, coisa de nerd, hehe. Mas para ser mais direto, há algumas palavras-chaves que funcionam como marcas de nerdice: informática, games, literatura, HQs, música(não está incluso funk; se algum Nerd gosta de funk ele abraçou o Lado Sombrio. Está incluso aqui o rock, perfeito para desenvolver nossa Força.), animes, RPG, seriados de TV, e por aí vai. Observação: Star Trek e Star Wars não são requisitos obrigatórios. Engraçado que se você procurar "nerd" no Google images vai aparecer homens feios com óculos gigantes. Malditos estereótipos, nem todo nerd é feio e/ou são quatro olhos. 

A princípio, meu desejo de ler o livro era puramente para divertir meu lado nerd, mas assim que o folheei e li o começo do primeiro capítulo, vi que era uma leitura extremamente recomendada a mim. Como estudante no Fundão, simpatizei com esses trechos, hehe.
A sensação do Fundão ficando para trás sempre era agradável, mas aquele dia parecia diferente. Havia um engarrafamento na Linha Vermelha, mas Lucas e Marcos estavam tão acostumados que nenhum deles sequer soltou algum palavrão.

Um vendedor de coca-cola e biscoito Globo circulava entre os carros irremediavelmente presos no trãnsito congestionado.
- Basta um engarrafamento pra esses vendedores ambulantes brotarem do chão. Acho que eles são gerados por abiogênese. Geração espontânea, essas merdas. Quando mais de dez carros ficam parados juntos por muito tempo na Linha Vermelha, eles germinam do asfalto. Surreal. - comentou Marcos.

NERDQUEST
Autor: Pedro Vieira
Editora: 7Letras
Lançamento: 2008
Páginas: 104
Sinopse: Com um texto leve e saboroso, recheado de referências pop (quadrinhos,role-playing games, literatura, séries de tv, videogames, desenhos animados, cinema e – principalmente – música), Nerdquest apresenta um retrato bem particular de uma geração nascida e criada em plena era digital.

Os protagonistas são jovens fãs de música alternativa e cultura pop "descartável" – o estereótipo nerd encarnado –, divididos entre o universo virtual dos jogos de rpg e os desafios reais do mundo adulto.

Lucas, recém-saído da faculdade e sem perspectivas profissionais, tem que reavaliar suas prioridades e seus hobbies "nocivos" frente ao desafio de "amadurecer" (ou o que quer que isso signifique), enfrentando os dilemas amorosos e as crises existenciais típicas da juventude – aqui apresentados sempre com muita ironia e bom humor.

Os jovens do século XXI (de todas as idades) irão se encontrar nessas páginas, e com certeza vão se divertir com as aventuras de Lucas e seus companheiros, nesta jornada sem fim pelos mundos da vida real.

Os capítulos são curtos e intitulados com o nome de músicas de conhecidas bandas de rock. Certo, eu só reconheci umas três. Essa parte do rock não é bem pra mim. Mas foi uma ideia bem interessante nomear os capítulos dessa maneira, só não sei afirmar se os nomes condizem com o conteúdo dos capítulos; provavelmente sim. 

A narrativa leve, sem muitas descrições é objetiva: uma escrita acertada tendo em vista o desenvolvimento da história. Em algumas ocasiões, até surgem alguns vocábulos mais rebuscados daqueles que só passamos a conhecer na faculdade, mas nada que dificulte a leitura.  Um detalhe que vale ser mencionado também é a linguagem coloquial dos personagens, jovens por volta dos 20 anos mal saídos da faculdade. Portanto, há presença frequentes de palavrões, e isso é muito bom, pois torna o livro ainda mais verossimilhante.

É salutar lembrar que esse não é um livro para qualquer pessoa, e sim para nerds, pois somente sendo um para entender todas as referências na história. É como você tentar assistir The Big Bang Theory e não entender nem 10% das piadas. Mas nem eu entendi todas as passagens do Nerdquest, principalmente envolvendo músicas. Além desta, o RPG e os HQ's são marcas bem recorrentes na história. 

- Ih, Marcos, somou quanto aí? Nove? Morreu - interrompeu Jorge. 
- Como assim morri? Porra! Você não pode me matar no primeiro round do combate? - protestou Marcos.
- Calma, próxima rodada eu mando um raise dead e ressucito você - disse Alemão, que jogava sério.

Como sou o nerd que tem um pendor pela literatura, eis uma passagem interessante. Fiz uma resenha desse livro aqui.

Como foi a dinãmica de grupo? - perguntou Jorge, quando Lucas passou no sebo.
- Uma bosta. Eu disse na frente de todo mundo que só acreditaria em uma organização que seguisse os moldes da civilização de Admirável Mundo Novo. E só se eu fosse nível alpha
- Que merda. Acho que você foi eliminado.
- Nem. Ninguém lá tinha lido o livro, minha colocação irônica passou em branco. Aí a psicóloga disse que eu estava sendo pedante e tirando onda de intelectual.

A temática do livro gira muito nas cobranças da sociedade para que você se adeque a ela. Lucas, o protagonista do tipo nerd, ou seja, um rapaz com hobbies geralmente malquistos pelas pessoas consideradas "normais", sofre com essa mudança de perspectiva das coisas. Sua vida é obrigada a mudar frente as cobranças dos pais, da namorada, de toda a sociedade que procura encaixá-lo como um cidadão necessário. A questão é que sendo forçado a isso, Lucas vai abandonando quem ele realmente é, aquelas coisas que o definiram ao longo da vida simplesmente para "amadurecer" diante da realidade. Isso é bem bacana de observar no livro, essa luta do protagonista em resistir a essas implicações e descobrir que é possível sim equilibrar os dois lados. É justamente isso que faz esse livro um Nerdquest. 

Sinceramente, foi uma de minhas melhores leituras do ano. Saboroso, divertido, com leves cutucadas críticas a sociedade, eu recomendo esse livro a todos os nerds como eu.

P.s: A imagem no início do post é do Jovem Nerd. Ótimo site de conteúdo nerd. ;D

4 comentários:

Pedro Vieira disse...

Fala Luiz,
Valeu pela resenha, rapá! :)
Que bom que curtiu o livro e sacou as referências obscuras hehe
Abração!

Luiz Fernando Teodosio disse...

Oi, Pedro. Parabéns pelo livro, kra. ^^ Curti pacas!
Abraço.

Anônimo disse...

Esse livro me faz lembrar de uma conversa que tive com um amigo da faculdade, na qual ele me perguntou até quando eu gostaria de animes. rsrs Enfim, é difícil mesmo fazer as pessoas enxergarem que é possível gostar dessas coisas que englobam o "universo nerd" e ser um cidadão ativo e responsável na sociedade. u_u

Luiz Fernando Teodosio disse...

De vez em quando até minha própria família me olha daquela maneira descrente quando estou assistindo um animê.
Mas acho que isso está mudando um pouco, já que a raça de nerds cresce a cada dia, hehe.