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A ficção científica não é o meu gênero predileto, mas sinto-me atraído por alguns enredos desta esfera. Isso é muito mais fácil em filmes, em que não há necessidade de uma compreensão específica sobre os processos inerentes ao gênero; a questão da imagem, por mais futurista que seja, é bastante clara. Em contrapartida, uma obra de ficção científica requer certa maneira para transmitir sua imagem para a mente do leitor, orientar o processo imaginativo do leitor para algo próximo do que o autor imaginou - fato que também ocorre em cenários de fantasia mais abstratos. Todavia, trabalhar com ciência e fantasia são coisas distintas, e cada gênero recorre a expressões, à principio, desconhecidas pelo leitor.

Como já mencionei, não sou adepto a literatura de ficção cientifíca, poderia considerá-la em meus gostos secundários de leitura ao lado do romance policial. Por esse motivo, não irei fazer uma resenha pautando-me numa análise critica de uma obra de ficção científica, mas como um livro como qualquer outro que me cativou.
  
Sinopse: A vida do jovem Paul Atreides está prestes a mudar radicalmente. Após a visita de uma mulher misteriosa, ele é obrigado a deixar seu planeta natal para sobreviver ao ambiente árido e severo de Arrakis, o 'Planeta Deserto'. Envolvido numa intrincada teia política e religiosa, Paul divide-se entre as obrigações de herdeiro e seu treinamento nas doutrinas secretas de uma antiga irmandade, que vê nele a esperança de realização de um plano urdido há séculos. Ecos de profecias ancestrais também o cercam entre os nativos de Arrakis. Seria ele o eleito que tornaria viáveis seus sonhos e planos ocultos? 

O livro é de compreensão difícil, há uma gama abrangente de expressões e conceitos da própria história que acabam confundindo o leitor mais desatento. Felizmente, apêndices ao final do livro servem de orientação, não nos deixando se perder na complexidade dos elementos apresentados - a versão que eu li era a de 1984, da editora "Nova Fronteira"; não sei se isto se mantém na edição da "Aleph", lançada em 2010. Após degustar metade do livro, estes elementos já conseguem ser organizados na mente, e a história passa a viciar a cada página.

Na verdade, uma palavra para representar o ritmo de Duna é... frenético. Foram raros os momentos em que a leitura tornou-se cansativa e sem avanço: em algumas cenas onde prevaleciam a jornada por entre os cenários arenosos do deserto, em que o autor descrevia precisamente os detalhes de se viver em tal lugar árido. Fora isso, a trama conseguia elevar e diminuir a tensão constantemente, um ritmo cativante amparado pela divisão do livro em três outros livros menores - coisa semelhante que acontece num volume do Senhor dos Anéis( livro I e livro II). Desta forma, o desenvolvimento do enredo sempre demonstra um início e um fechamento climáx que dá corda ao próximo livro, contribuindo bastante para manter o leitor preso às suas 600 páginas de história.

Um detalhe importante sobre os capítulos é que eles não são nomeados, e sim, apresentam uma introdução: uma citação de algum livro do universo de Duna para contextualizar o capítulo que virá em seguida, o que chamamos de epígrafe. Um método estiloso e chamativo que dá uma cara diferente ao texto. Acho bem interessante este tipo de início, pois coloca uma grande expectativa na leitura a partir de frases intrigantes.

É estranho como histórias de "escolhidos", apesar de ser um eterno clichê, ainda conseguem cativar, desde que sabiamente usadas. O messianismo que prevalece no enredo de Duna consegue ser bem envolvente e um pouco diferente de outros personagens deste tipo. Não consigo discernir nitidamente o porquê de Paul Atreides ser diferente, mas é um personagem atormentado, sempre imerso em dúvidas, e suas ações nem sempre portavam aquela onipotência que um "escolhido" carrega. Ao mesmo tempo em que ele é um messias para o povo de Arrakis(Duna), ele parecer ser um personagem como qualquer outro.

Duas palavras conseguem sobressair facilmente no enredo de Duna: política e cultura. É impressionante a habilidade do autor em movimentar ambos os signifcados na trama de uma forma tão intrigante e poderosa. Os diálogos políticos entre os personagens não são de forma alguma monótonos, conseguem ser interessantes e concisos. Ademais, boa parte dos diálogos do livro, por suportarem um peso simultaneamente racional e emocional, concebem um ponto positivo que não pode passar despercebido. Há uma variedade de cenas com diálogos longos em que a leitura não cansa (minha preferida foi a de um jantar dos Atreides com alguns indivíduos importantes do planeta Arrakis).

No plano cultural, temos os costumes dos Fremen(povo do deserto) que faz alusão direta à escassez de água no planeta, e nisto já puxa um gancho para a questão ecológica também tratada no livro. A forma como a água é vista em Arrakis é algo impressionante, os costumes que a simples ausência deste líquido precioso pode gerar numa raça é de deixar qualquer um impressionado. Trajes destiladores, que conservam a água de seu corpo, capturando a umidade, e reservando-a numa bolsa no traje; há tendas com este mesmo planejamento de conservação da água. O fato de você chorar também pode ser visto como um desperdício de água. Enfim, há uma série de costumes influenciados pela escassez da água.



Vermes gigantes que se movimentam por baixo do deserto e que irrompem da areia ao menor passo ruidoso dado sobre o terreno arenoso. Especiarias que conferem uma cor azulada aos olhos e que possui propriedades geriátricas. Humanos chamados Mentats treinados para pensar logicamente como computadores, já que o Império proibiu o uso de máquinas pensantes. Isso e muitos outros elementos permeiam o enredo de Duna. Eu não conseguiria fazer um resumo de todas as outras tramas e elementos do livro. Apenas confesso que é de uma riqueza imaginativa exuberante.

Após ler o primeiro volume clássico de Duna , procurei sondar suas continuações. Descobri que há mais cinco livros da série: O Messias de Duna(1969); Os Filhos de Duna(1976); O Imperador-Deus de Duna(1981); Os Hereges de Duna(1984); As Herdeiras de Duna(1984). Não estou certo, mas acho que o autor faleceu antes de terminar a obra completa, e tudo o que resta são anotações que acarabam gerando prequels co-escritas por Brian Herbert, o filho do autor, e Kevin J. Anderson.

Detalhes que eu também não sabia é que existe um filme de 1984, duas mini-séries lançadas recentemente, e até mesmo jogos. Em breve, lerei os livros seguintes e vou procurar assistir as mini-séries.

Duna é considerado um grande clássico da ficção científica. Agora entendo o porquê... simplesmente sensacional.

P.s: A banda IronMaden chegou a compor uma música inspirada no clássico "Duna". Curtam aí!

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu, particularmente, não consigo ver Duna como pura ficção científica. Me lembra mais Space Opera, apesar de faltar alguns elementos do gênero. A abordagem científica aqui não é tão importante quanto a história em si.
Aliás, você devia dar uma olhada em Dragonriders of Pern da Anne MacCaffrey, que mescla FC e Fantasia de uma maneira que, ao menos em minha opinião, é soberba.

Luiz Fernando Teodosio disse...

Não conheço Space Opera, mas já que Duna carrega um pouco dele, pdoe ser que me atraia.
Hm, obrigado pela dica. Darei uma pesquisada sobre esse "Dragonriders of Pern". Como mescla Fantasia no meio, é muito provável que eu curta.

Anônimo disse...

No geral, Space Opera é o gênero de Star Wars, que com certeza não pode ser chamado de Ficção Científica. Afinal, a "Força", por exemplo, nunca teve uma explicação concreta na obra. Ela pode ser tanto algo místico quanto algum tipo de poder telepático decorrente da evolução das espécies. Uma FC pura tentaria explicar isso, mas Duna e Star Wars não entram nesses pormenores. Seria o que chamamos de Science Fantasy, sabe. =D

Amber disse...

Em certo ponto, até concordo com o Anônimo (ou Anônima), já que "Duna" foi uma das inspirações para "Star Wars", mas, em meu ponto de vista, é complicado definir se é Space Opera ou Sci-Fi; digamos que o Frank Herbert misturou bem o que há de melhor nos dois gêneros, e deu nesse épico que está aí. =)

"Dragonriders of Pern", pelo o que eu vi, é Sci-Fantasy, sem tirar nem por. Uma pena que é complicado de achar.

De qyalquer forma, achei o blog e a resenha excelentes. ^^

Anônimo disse...

Recentemente assisti ao filme Duna, dirigido pelo David Lynch. Quanto ao livro, na minha opinião, é um clássico absoluto, seja sci-fi e fantasia. Aliás, as histórias que eu mais aprecio são as que conseguem equilibrar elementos sci-fi e fantásticos.

Luiz Fernando Teodosio disse...

Então parece que o gênero Space Opera me agrada. =)Descobri um novo tipo de leitura, hehe, interessante.
Acho que também irei me aventurar em algumas leituras Sci-Fantasy, de fato, o balanço entre esses dois gêneros numa história é bem bacana.

Obrigado pelo visita, pessoal.