Na
última terça-feira (22/05), fui a uma palestra do Luis Eduardo Matta sobre
Literatura Juvenil e a Formação do Leitor, na Academia Brasileira de
Literatura. Há algum tempo venho me interessando sobre o assunto, tornando-o,
aliás, pauta para minha futura monografia de conclusão de curso na faculdade e
provável tema de pesquisa de Iniciação Científica. Embora ainda esteja no
terceiro período, meu interesse pelo assunto é tão grande que acho relevante
pesquisá-lo desde já, começando a esquadrinhar todo o tipo de conteúdo a
respeito — livros, monografias, artigos, podcasts, palestras e etc. Foi com o
intuito de aprender um pouco mais que compareci a apresentação do Luis.
Essa
questão da formação do leitor é muito abrangente e delicada, e sinto que é pouca
tratada nos meios acadêmicos, quando
deveria ser um assunto de urgência e correntemente discutido. Tenho a impressão
que há certo receio ao debater esse tema, pois, indubitavelmente, entraria numa
literatura erroneamente mal vista ou desprezada por algumas mentes
intelectuais: a de entretenimento. E como se não bastasse, o contexto atual da
nossa sociedade, envolta a toda hora de novidades tecnológicas aliciantes,
diminui ou quase que extermina um tempo dedicado ao livro, um objeto quase
arcaico e sem atração para uma geração informatizada. Tendo em vista essas
mudanças sociais, acho imprescindível uma preocupação com o livro, que embora
tenha sido beneficiado com alguns avanços editorias, está se tornando sem
encanto ao lado de maravilhas tecnológicas. Portanto, precisamos dizer aos
jovens de hoje que os jogos de video-game, os filmes em 3D, a internet, dentre
outras coisas, não são as únicas maravilhas do mundo. Os livros também são.
Dentre
todas as feições sobre o tema, irei salientar alguns aqui que merecem reflexão.
Primeiramente,
há uma equivocada impressão de que a cultura erudita está associada à classe
alta e a cultura de massa à classe baixa. Isso é uma visão preconceituosa e
elitista, uma falsa generalização. O Matta ilustrou esse erro contando a
respeito de um homem, de posição humilde, que possuía um incrível acervo de
música clássica; do outro lado, temos indivíduos abastados tocando funk da mais
baixa linguagem em festinhas da noite. E na literatura, creio que não seja
diferente: um livro de literatura de massa ou de uma literatura de proposta
pode ser lido por leitores de todas as classes. Apenas porque uma pessoa teve
mais “privilégios” que outras não significa dizer que ela é mais bem capacitada
intelectualmente. Associar o gosto literário a fatores econômicos é querer
simplificar precipitado e injustamente essa questão de alta ou baixa literatura
(prefiro chamar esta última de literatura de entretenimento). Aliás, tal
divisão, em minha opinião, seria válida no sentido de predizer qual a proposta
literária de cada tipo, ou seja, enquanto uma literatura mais séria emprega grande
carga de reflexão ou de experimentalismo linguístico, a outra se foca mais na
sedução por uma narrativa que conte uma boa história. Essa separação seria
conveniente neste ponto de vista, mas, infelizmente, é vista como separador de
qualidade literária. Aí já entraria a questão do que seria esta “qualidade
literária”, mas prefiro não enveredar por esse caminho no momento. Na verdade,
eu concordo com as palavras do Luis Eduardo Matta a esse respeito: “Tudo é
Literatura”.
Um
segundo ponto importante é como a aquisição de obras pela internet impulsionou
o hábito de comprar livros, principalmente nos jovens. Em meados dos anos 90
era muito difícil (e ainda é) encontrar livrarias próximas de casa. Aqui no Rio
de Janeiro, por exemplo, pelo menos na região onde moro, é complicado achar uma
boa livraria, pois mesmo as mais próximas possuem um acervo muito pequeno,
restando apenas o centro da cidade para adquirir algum título pouco comum. A
mesma questão, só que numa proporção muito maior, vale para as bibliotecas. E
além de escassas e mal distribuídas há o fato de que a pessoa não entrará numa
livraria ou numa biblioteca se não estiver realmente interessada. É preciso
antes semear o gosto pela leitura nas pessoas, é preciso formá-las leitoras.
Então, voltando ao século XXI, temos a internet, assumindo tanto um papel de
vilã, na medida em que afasta a atenção dos jovens do ato de ler, como de
heroína, incentivando a leitura de livros por meio da interação entre seus
usuários nas redes sociais e em blogs literários. E no caso da aquisição de
livros, sites de compras há aos montes em que o leitor pode obter um livro
mesmo que a livraria mais próxima fique a 100 km longe de casa.
Ainda
sobre a inclusão tecnológica na vida dos jovens, a aproximação entre os
leitores gerou um grande “boom” de interesse. Quem antes só tinha um amigo, ou ninguém,
para discutir sobre determinado livro, hoje, acessando a internet, é possível se
comunicar com todos os outros leitores conectados a rede. É um exercício de
interação empolgante e viciante. Falo por experiência própria, pois desde que
comecei a participar desse meio virtual de leitores não consigo mais sair. É
uma ferramenta perfeita para o jovem “antenado” que pouco estímulo teria se não
estivesse em contato com outros leitores: poderia muito bem ocorrer dele gostar
de um livro, mas não ter com quem compartilhar essa alegria. O meio virtual
permite interação não só com os leitores, mas melhor ainda, com os próprios
escritores. Em suma, ao contrário do que se pensa, a internet vem se provando
uma ferramenta muito forte no contínuo interesse pela leitura.
Por
último, gostaria de destacar, ainda no âmbito escolar, certo despreparo dos
professores de literatura. Tudo bem que é preciso seguir um currículo, mas
alguém que ame a literatura não pode virar escravo de um modelo de aula, que,
diga-se de passagem, é insalubre. É preciso buscar outras ferramentas para que
o aluno crie o gosto pela leitura. O Luis narrou o episódio de uma professora
que desgostou da resposta de um aluno a respeito da interpretação de um livro
(O Guarani, se não me engano), argumentando que a resposta não batia com o
gabarito. No entanto, o escrito do aluno havia sido plausível e coerente, mas
ainda assim a professora não o aceitou. Motivo: nem ela própria tinha lido o
livro. É uma tragédia que dá vontade de rir, não?
Há
muitas outras questões levantadas pelo assunto e que não caberiam numa única
postagem. Isso dá pano pra manga! Gostaria que vocês, leitores, pudessem
refletir a respeito. Como já mencionei, pretendo pesquisar mais esse tema e, em
breve, trarei novas postagens.
1 comentários:
É inegável que o leitor se forma numa educação de qualidade, pelo interesse daqueles que estão por trás, por mais que o acesso ao livro tenha um grande âmbito nos seus meios. O maior problema é essa massa (leitores) que não sabem e não buscam a leitura como um motivador para a sua formação.
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