Boa leitura.
Um pedaço da rocha que protegia o corpo de Zailon, acima dele, cedeu em uma explosão ocasionada por um ataque inimigo. Tentáculos graúdos feitos de uma energia negra solidificada acometeram a rocha na qual o Mago estava embrenhado. Por sorte do mesmo, o rochedo era grosso e vigoroso para resistir àqueles ataques. Tais investidas apenas explodiam junto à rocha.
O Mago sentiu os farelos cinzentos do rochedo caírem sobre seu concentrado cabelo verde claro. Um pouco abaixo de uma única e agressiva mecha diagonal que encobria parte do lado esquerdo de sua fronte, seus olhos estreitados denotavam sua seriedade perante a situação.
Afinal, estava enfrentando o ser mais poderoso do mundo naquele tempo: Raizen, ou também conhecido como, Lorde da Destruição. Também nomeado como um dos três Lordes Malignos ao lado de Akiros e Hinaro. Felizmente para o Mago, os outros dois que portavam poderes inferiores à Raizen, porém ainda grandes, já estavam mortos; mesmo que a morte de um deles não tenha sido confirmada. Portanto, restava apenas um.
Zailon recordava-se de que a criação do Lorde relacionava-se com o mal que dominava as pessoas.
Por causa de certos indivíduos, cruéis conseqüências recaíram sobre gente inocente. Um Mago zela pela paz no mundo, e qualquer ato maligno deve ser detido. Os “Guardiões da Paz”, como eles são conhecidos, prezam acima de tudo, os atos benéficos e as boas pessoas existentes. Essa era a missão de um Mago. Trazer a ordem que citará a paz. Entretanto, Raizen fora uma falha nessa missão, e por conta disso, as decorrências reincidiram sobre todas as pessoas no mundo.
Tais seqüelas lastimáveis acabaram criando um panorama muito contrário ao que os Magos desejavam. Três Lordes Malignos irromperam a chamada “paz”, se comparada aos tempos de guerra. E Raizen tornou-se o causador principal de uma total destruição.
“Eu sou um Mago, e como Governante deles, é minha responsabilidade consertar este erro. Eu vou acabar com esse mal e restaurar a paz.”
Com essa determinação pessimista, o Mago Zailon Hauker, portando sua túnica azul de tom forte, presa a um cinto marrom, e capa negra – com o símbolo Trinyang adornado nas costas – começou a ponderar numa estratégia para mudar sua ação naquela luta. Já fazia algum tempo que sofria pressão do inimigo, obrigando-se a se esconder entre as várias rochas naquele lugar de aspecto pedregoso.
Já perdera a conta de por quantas horas aquela luta se arrastava. Raizen mostrou ser um oponente formidável além do que Zailon imaginara. Eram poucos os Magos que teriam a capacidade física e mental de permanecerem ativos naquele embate duradouro.
- Então o Mago Supremo é apenas capaz disso? – indagou alguém não muito distante.
Raizen dialogava com Zailon. Sua voz era forte e imponente, e transpassava uma total segurança de si. Aparentava ser plácido, mas para quem ouvia, recebia uma forte sensação de temor. Ele continuou.
– Você teve a audácia de vir até aqui e me enfrentar... para fazer apenas isso: fugir como um covarde. – Em seguida, o Lorde proferiu uma rápida risada desdenhosa. – Se o ser dito como mais forte deste mundo não pode me encarar, digo-lhe que este mundo estará acabado.
Aquelas palavras causaram irritação em Zailon, mesclado com uma forte sensação de impotência. Tinha conhecimento de que o poder de Raizen era gigantesco e que poucos no mundo, contando com ele, tinham a capacidade de enfrentá-lo. Mas a proeza de vencê-lo não estava na competência de ninguém. O que ele estava fazendo não era uma luta para eliminá-lo, mas uma luta para entretê-lo. Até que a arma secreta, sua última aposta, chegasse até ele.
Aron continuou seu percurso após seu encontro inesperado com Taylor. Passar sobre as rochas desabadas não fora uma tarefa muito difícil, visto que era necessário apenas saltar provendo de sua Aura concentrada nos pés. Embora, tivesse que subir sem usar saltos em alguns pontos, esgueirara-se sem inconvenientes até o topo do monte de pedras. Sobre o cume, foi só seguir o resto do caminho escondido após o desmoronamento.
Ele mal acreditava que saira ileso após um encontro com o criminoso mais procurado do mundo: o Mago Negro, Taylor Ferews. Muitas indagações sobre este homem ainda pairavam na mente de Hauker.
“Como ele sabia sobre a Pirâmide dos Três Guardiões?”
Esse objeto fora entregue a Aron por Dalfing pouco antes de morrer. Antes daquele momento fúnebre, Aron fora mandado por Peyne, um dos Magos Generais, para entregar uma relíquia importantíssima para Zailon, que se encontrava em Dhakor na iminência de travar uma batalha mortal com o Lorde da Destruição. Tal item mágico era a Agulha do Poder, capaz de aumentar instantaneamente, com efeito passageiro, o poder daquele que usá-la para furar o próprio coração. Infelizmente, Aron não sabia como, mas tal relíquia que fora colocada sob sua responsabilidade desapareceu.
O adolescente mal sentia seus pés pisando na terra dura e cinzenta salpicada de pedrinhas, e muito menos sentia o baque de sua corrida. Sua mente pareceu ter entrado em uma sedutora indagação. Algo que o jovem mal parara para pensar devido ao calor dos acontecimentos recentes.
“Por que eu estava desmaiado?”
Aron logo pensou que o fato de ter estado desacordado por algum tempo tinha relação com o sumiço da Agulha do Poder. Tentou lembrar o que acontecera antes de acordar, mas o que passou por sua cabeça foram apenas imagens desordenadas e confusas: sua entrada no Território Negro; a visão fantasmagórica de um exército gigantesco de Espectros e Raças Horrendas por toda uma planície; e também... A última coisa que se lembrava estava envolta por uma luz ofuscante, e ao que parecia a imagem de um cajado e a silhueta de um rosto.
O ribombar dos trovões irrompidos adiante, no cume do penhasco, tiraram o Mago de suas reflexões misteriosas. Ele voltou-se à realidade e pôde sentir novamente a tensão de sua corrida, sua respiração frenética, e a visão do penhasco se aproximando.
Seus olhos bateram sobre um monte bem próximo ao longo do vale. Tinha um formato cilíndrico, e aparentava ser bem espesso; suas encostas eram recheadas de irregularidades. Perto de sua base, a superfície do declive parecia ser derramada sobre o plano.
Em cima do penhasco, raios eram esguichados em direções aleatórias estendendo-se até as nuvens. Aron podia ouvir o som dos ataques daqueles que batalhavam no topo. As luzes dos raios emitidos por algum dos duelistas alumiavam o céu carregado, dando a impressão de que uma tempestade cairia sobre aquela região.
O som da batalha incitou mais velocidade nas pernas do adolescente, que deu maior apreço à sua missão. Seu pai estava dando tudo de si, lutando contra Raizen, mesmo sabendo que o poder do Lorde era superior. Porém, Zailon concluira que acabar com aquele ser era o único modo de impedir o avanço da Energia Maligna no mundo. E ele não poderia executar tal feito sozinho. Ele precisava de ajuda.
- Pai, eu estou chegando! – esbravejou o jovem Mago, se aproximando cada vez mais do penhasco.
Atento ao silêncio que se formara após as palavras de Raizen, Zailon empunhou firmemente seu cajado, se precavendo caso um ataque surpresa lhe acometesse. E como o esperado...
Por cima da rocha, mais um tentáculo de energia tentou acertá-lo verticalmente. Entretanto, o Mago foi mais rápido e lançou uma intensa descarga elétrica com seu cajado. A investida atingiu o tentáculo negro o envolvendo num chispo azulado de eletricidade. Alguns instantes depois, a energia escura se dilacerou em inúmeras e ínfimas partículas enegrecidas, para em seguida, desvanecerem no ar.
Sabendo que poderia haver outro ataque inusitado, Zailon decidiu fazer algo a respeito. Colocou-se numa postura ereta e moveu seus pés protegidos por botas de couro. Saiu de trás da pedra de onde estava escondido, e girou o corpo para trás, com o intuito de enxergar aquele que lhe atacara no outro lado. Seus olhos verde-escuro encararam o oponente não muito longe.
A poucos metros de distância, Raizen jazia sobre uma rocha pontiaguda de três metros de altura. Seus pés pareciam não se incomodar por estarem divididos nos dois flancos íngremes do rochedo cinza. A altitude na qual se encontrava apenas salientava ainda mais a sua posição de criatura temida. Era a visão de um ser onipotente.
O Lorde da Destruição tinha uma pele pálida numa leve tonalidade cinzenta, e sobre ela, algumas listras negras curvadas marcavam todo o seu corpo. De vestimenta, possuía uma espécie de sandália, joelheira, uma calça curta que ia até abaixo dos joelhos – um pano volteava a região alguns centímetros abaixo da cintura, cobrindo metade da região das coxas – e, todos os acessórios do seu corpo eram de tonalidade bordô.
No centro do peitoral, incrustada, jazia uma jóia hexagonal de cor negra e levemente reluzindo uma gradação violeta, grudada ao músculo do tórax.
Seus cabelos tão negros quanto à escuridão de sua existência eram longos e recaiam até a metade das costas; e algumas mechas escorregavam por sua testa. Um pouco abaixo, os dois olhos cor escarlate encaravam furiosamente o inimigo. Em sua boca aberta, seus dentes afiados se mostravam, como se um predador estivesse prestes a atacar sua presa. Raizen ainda tinha unhas negras tanto nas mãos quanto nos pés.
Empunhava duas armas. Tratava-se de duas espadas longas e curvadas na cor vinho, combinando com as vestimentas de baixo. A lâmina e o cabo eram do mesmo tom.
Raizen era bilíngüe. Tinha conhecimento da língua humana, que era a habitual naquele mundo, e também da Língua Obscura. Esta última linguagem ele apenas pronunciava aos Espectros e a outras Raças Horrendas. Eram poucos os Magos que também podiam entender tal língua, visto que esse aprendizado já não era mais obrigatório na sociedade deles.
“ Hyu se gyer syrawo.”
- Serei destruído? – indagou Zailon com um sorriso, duvidando da afirmação de Raizen. – É o que vamos ver!
Sem perder tempo, ele levantou o cajado longo na direção do Lorde Maligno. Sua arma era de um azul bem mais forte que sua roupa, e na ponta, adornado com um metal dourado em linha reta semelhante a uma lança - e ao longo de seu curto comprimento era cheio de ramificações rijas; todas direcionadas para um respectivo lado, e depois, rumando para a direção da lança, como se fossem um “L”. Essa forma de “ele” diminuía seu tamanho conforme as ramificações se aproximavam da extremidade da ponta. Em suma, se poderia dizer que a arma de Zailon era ao mesmo tempo, além de um cajado, uma espécie de lança com espinhos nodosos na ponta.
Chispas elétricas dançaram por um ínfimo segundo entre as ramificações de sua arma. Logo em seguida, a ponta do cajado foi volteada por um brilho luzente de gradação azulada.
- Raios! – bradou o Mago.
Um raio azul saiu do cajado e viajou até o oponente, e este, por sua vez, notou rapidamente a hostilidade que se encaminhava até ele. Empunhou suas duas espadas da maneira mais ágil possível, e as colocou na frente do corpo na forma de um “X”. A energia chispante não colidiu por pouco com a solidez das espadas por questão de milímetros. Isso porque uma barreira translúcida criada pela posição das espadas refletiu a magia inimiga, ocasionando pequenas ondas na superfície do escudo quase invisível.
O raio lançado pelo Mago era incidido para várias direções. Ora ele ia para o céu, ora para o solo, ou até mesmo contra o próprio invocador. O ataque era simplesmente refletido para rumos aleatórios.
Zailon soltou um urro de bravura e intensificou o ataque. Uma maior quantidade de raios pulou de seu cajado em direção ao inimigo. Ao mesmo tempo, ele deu uma pisada forte no chão produzindo um baque completamente ofuscado pelo som das faíscas elétricas.
Enquanto as linhas elétricas eram detidas pelas espadas cruzadas do Lorde da Destruição, o segundo ataque se encaminhava sigilosamente até o alvo. A primeira ofensiva foi apenas uma distração para o verdadeiro propósito da investida. Após lutar tanto tempo contra aquele oponente, Zailon já sabia o que teria êxito ou não contra Raizen. Ele certamente não seria pego em um simples ataque elétrico.
Um pequeno monte de poucos centímetros de altura, proveniente da pisada de Zailon, corria pelo chão em direção à Raizen, este que ainda não havia notado o ataque principal. Seu ego ainda se glorificava por estar detendo uma ofensiva tão infantil àquela altura da batalha. Foi quando a pilha de terra aproximou-se pela lateral do alvo, e subitamente, uma rocha pontuda emergiu do ponto em que ela parou, crescendo diagonalmente para acertar o inimigo.
Raizen notou um som incomum à sua direita, e viu um espinho rochoso lhe vindo acometer. Foi tudo extremamente rápido, e ele só teve o tempo necessário de assimilar aquela ponta prestes a atingir sua costela.
Zailon viu a uma boa distância, entre as faíscas elétricas que iam até o inimigo, seu plano funcionar. Abaixou o cajado cessando o envio de seus raios.
- Consegui! - Ele vibrou por um momento ao ver que a rocha atingira em cheio o flanco do oponente. Porém, a visão que se sucedeu trouxe-lhe frustração. – O que!? Não pode ser!
Raizen fitava de soslaio para a ponta rochosa que insistia em perfurar sua carne; conseguia apenas afundar alguns milímetros a pele pálida do Lorde Maligno. Aquele espeto feito de pura rocha se assemelhava a um espinho de pedra emergindo diagonalmente da terra, mas que não conseguia mais crescer; isso porque encontrara uma resistência no meio do trajeto.
- Hmpf! Eu sabia que seu objetivo não era apenas me atacar com aqueles raios medíocres. Por isso, fiquei ansioso para saber o que estava planejando – proferiu Raizen, mirando o Mago Supremo de maneira desdenhosa. Praticamente menosprezava a capacidade daquele poderoso inimigo visto por alguns. Zailon ainda permanecia confuso.
- Como? Como a rocha não perfurou o seu corpo. Eu inseri uma alta densidade de Energia Volaki na extremidade desta pedra. Por que ela não o perfurou? Seu corpo é tão resistente assim?
- Não – respondeu Raizen com um som gutural. – O que acontece, Mago Zailon, é que você usou o relevo de Dhakor para me atacar. Você deveria saber mais sobre o tipo de lugar em que está pisando. O Lar da Energia Maligna. Tudo o que está neste lugar é composto por essa Energia, e como eu dependo dela para viver, é óbvio que qualquer coisa em que a Energia Maligna esteja incluída ela não será em hipótese alguma hostil em relação a mim.
Raizen lançou um sorriso oblíquo, e desfez a posição cruzada de suas duas espadas. Ele então jogou a da mão esquerda no solo, cravando-a verticalmente. Depois, com a mão nua, segurou a rocha pontuda que incomodava seu flanco e a partiu facilmente. Zailon olhou para a cena sabendo que o inimigo estava apenas demonstrando sua incrível força física.
- Mas devo admitir, você é bem forte – falou Raizen com um sorriso tenebroso. A expressão de seu rosto tomou um significado indistinto da onde saiu palavras que guardavam um sentido misterioso e maldoso. – Seria um desperdício matá-lo ao invés de usar esse poder ao meu favor.
- Do que está falando? – inquiriu o Mago, divisando uma feição pretensiosa no adversário.
Ele não respondeu. Apenas ergueu a espada da mão direita na altura do peito e a posicionou horizontalmente com seu bico virado para a esquerda. E com a mão de mesmo lado, começou a alisar a espada do cabo até a sua extremidade com os dois dedos. Um brilho negro foi tingindo a lâmina conforme o passar dos dedos; isso em companhia a palavras proferidas na Linguagem Obscura.
- Ingyr may enekir.
“Enegreça nosso inimigo.”
Um denso negrume saia da lâmina, como se o aparo da mão do Lord a estivesse queimando com um fogo obscuro. Quando os dedos chegaram ao fim da espada, a mesma mostrou-se numa nova lâmina escura e polida. Zailon olhou para a nova tonalidade daquela espada, receando o que aquela transformação significaria para o andar da batalha.
Raizen soltou uma risada momentânea e colocou sua espada à mostra defronte ao rosto. Ele admirou por um breve momento sua “nova” arma. Em seguida, mirou o inimigo com um sorriso afetado, podendo enxergar a feição atenta e preocupada do mesmo.
2 comentários:
Gostei dos diálogos. Também achei os personagens bem construídos.
Da forma como tu está tecendo a história, tudo leva a crer que o final será matador.
Eu também espero que o desfecho dela seja algo assim. O desenvolvimento dela acaba por tocar um ritmo diferente à leitura.Considero isso uma vantagem nesse primeiro arco.
Obrigado pela leitura.
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